terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Esclarecendo o termo “Rito de York”


O termo “Rito de York” é exclusivo da Maçonaria americana? É errado usar esse termo para designar graus ingleses?

O termo “Rito de York” não é exclusivo da Maçonaria americana. O termo “Rito de York” ou “Maçonaria de York” foi usado originalmente  pelos escoceses e irlandeses para se referir aos graus adicionais (além dos três graus simbólicos) praticados na Grande Loja dos Maçons Antigos, bem como as versões desses graus adicionais praticadas em suas próprias Grande Lojas (da Escócia e da Irlanda). Na realidade, a Grande Loja dos Maçons Antigos praticava o grau do Mestre do Arco Real, mas como parte integrante do grau de Mestre. Os irlandeses levaram essa nomenclatura “Rito de York” também para os Estados Unidos. Porém, na Europa, irlandeses e escoceses continuaram a chamar assim os graus adicionais, e mesmo quando as duas Grandes Lojas inglesas se fundiram, continuaram a usar o mesmo nome (York) para os graus "superiores" da Maçonaria. Apenas os ingleses, por várias razões, evitaram usar o nome “Rito de York”.

Assim, o nome "Rito de York" (e "Maçonaria de York") é usado, fora da Inglaterra, em vários países, para designar os graus superiores (além do grau 3) dos sistemas anglo-saxões.  Essa nomenclatura é usada, por exemplo, na Escócia, Irlanda, França e Chile.

Note que temos pelo menos QUATRO Ritos de York, a saber: da Inglaterra, da Escocia, da Irlanda, e dos Estados Unidos. Todos os quatro se originam dos graus adicionais praticados na Grande Loja do Maçons Antigos, todos sofreram mudanças e adaptações significativas e todos os quatro são igualmente “legítimos e verdadeiros”. É claro que há diferenças mais ou menos significativas entre eles.

Note também que nenhum dos chamados Ritos de York teve sua origem realmente na cidade de York ou na Grande Loja de York.

Exemplos que ilustram e comprovam o que foi dito acima:

1. Site do Supremo Grande Capítulo da Maçonaria de York no Colégio de Ritos do Grande Oriente de França:  

2. Site do Conselho Crípitico Salomon n.38, vinculado ao Supremo Grande Capítulo do Arco Real da Escócia, explicando a estrutura do Rito de York da Escócia.

Note que fora os graus cripiticos, os demais graus são tipicamente do sistema inglês, não havendo o grau de Past-Master, o grau de Mui Excelente Mestre sendo substituido pelo grau de Excelente Mestre (um grau tipicamente da Escócia e da Irlanda), tendo o grau de Royal Ark Mariners (Nautas), e Cavaleiro de Malta vindo depois de Cavaleiro Templário. (Obs. duncan no endereço do site não é uma referência ao riual de duncan, mas a Ducan Russel, webmaster responsável pelo site desse Conselho Crípitico)

3. Site do Capitulo do Arco Real St. Andrew n. 146 vinculado ao Supremo Grande Capítulo do Arco Real da Escócia explicando a estrutura do Rito de York da Escócia.

A explicação é a mesma que encontramos no site do Conselho Crípitico Salomon n. 38. O que mostra consistência. Vale ainda notar que ele tem o logo do Rito de York da Escócia é bem diferente do logo do Rito de York americano.

4. Site do Portal Masónico del Guajiro, apresentando o trabalho "Lo que conocemos como Rito de York" de Loja Prince of Wales Lodge Nº 19, Santiago, Chile (juridicionada a Grande Loja do Chile).

A introdução desse trabalho começa com a explicação: “Es costumbre en nuestro país, hablar de «Rito de York» en clara alusión al Rito que practican diversas Logias de habla inglesa, arraigadas en nuestro país

5. Link para o material do Seminário “EL “RITO DE YORK” O RITO DE EMULACION

Y EL REAL ARCO”  da Grande Loja do Chile.

Na página 6, temos: “El concepto de Rito de York merece, en primer lugar, una aclaración histórica. Esta categorización empírica se refiere en nuestra cultura a la masonería del sistema inglés. …. Es, entonces,una generalización del rito que se practica en Inglaterra, sin describir un ritual particular, sino a todos en general.

Na página 10: “El Rito de York se encuentra arraigado y validado por el nacimiento de la Gran Logia de Londres y Westminster, la Gran Logia Unida de Inglaterra y la unión de Modernos y Antiguos.”

Na página 20: “El Rito de Emulación constituye el único rito de origen inglés establecido y trabajado constitucionalmente en la G\L\ de Chile, bajo la denominación “Rito de York”.”


Podemos dizer que o Rito de York Americano é o Rito Inglês Antigo?

Não, definitivamente não. Pelo menos quatro graus do Rito de York americano não são de origem inglesa. O grau de Mui Excelente Mestre foi criado nos Estatdos Unidos, em substituição ao grau de Excelente Mestre (até hoje praticado na Escocia). O Grau de Super-Excelente Também foi criado nos Estados Unidos.  Os graus de Mestre Real e Mestre Escolhido foram originalmente criados como graus “laterais” no Rito da Perfeição e como tal chegaram ao Rito Escocês Antigo e Aceito. Mais tarde, esses graus “laterais” foram abandonados pelo Rito Escocês Antigo e Aceito e acabaram incluídos no Rito de York Americano. Bem posteriormente, esses três graus (Mestre Real, Mestre Escolhido e Super-Excelente Mestre) foram também incluídos no Rito de York da Escócia.

Sobre a história do Graus Crípticos (Mestre Real, Mestre Escolhido e Super-Excelente Mestre), veja, por exemplo:


Existe um “legítimo” (ou “verdadeiro”) Rito de York?

Na realidade o Rito de York original era o praticado na Grande Loja dos Maçons Antigos e deu origem a pelo menos quatro Ritos de York, a saber: da Inglaterra, da Escócia, da Irlanda, e dos Estados Unidos. Todos os quatro sofreram mudanças e adaptações significativas. Mesmo assim, todos os quatro devem ser considerados igualmente “legítimos e verdadeiros”. Dos quatro Ritos de York, o praticado na Irlanda é considerado o mais próximo do original.


Os graus simbólicos nos Estados Unidos são parte do Rito de York americano?

Rigorosamente não, por três motivos. Primeiro, na Maçonaria anglo-saxônica  não é usual se atribuir rito aos graus simbólicos. Segundo, os graus simbólicos nos Estados Unidos estão sob o controle da Grandes Lojas Estatudais. Portanto a Grande Loja de cada Estado define os rituais dos graus simbólicos como achar conveniente. Há estados onde os graus simbólicos são baseados no Emulation inglês (por exemplo: Grande Loja de Washington) e há estados onde os graus simbólicos são baseados no Rito Escoces Antigo e Aceito (por exemplo: Grande Loja da Louisiania).  Assim fica claro que não há, nem é preciso que haja, uniformidade entre os diferentes estados do Estados Unidos. Terceiro, mesmo nos estados onde os graus simbólicos são baseados no trabalho de Thomas Smith Webb, isso não justifica chamar tais graus simbólicos de “Rito de York”, pois o trabalho de Webb é muito mais abrangente, apresentando mais graus do que aqueles que compõem o Rito de York americano. Por exemplo, o grau de Mestre Secreto (grau 4 do Rito Escocês Antigo e Aceito) faz parte do Monitor de Webb.

Atualmente, algumas Grande Lojas americanas estão usando a expressão “Rito de York” para seus graus simbólicos, mas isso é uma extensão da nomenclatura, análoga a extensão do nome “Rito de York” (ou “Maçonaria de York”) para o Ritual de Emulation (inglês), que ocorre em alguns países como França, Chile e Brasil. 

2 comentários:

  1. Muito interessante. Eu já tinha visto fora do Brasil o termo Rito de York usado para designar o Rito Inglês, e por isso sempre achei estranha essa estória que foi um equívoco do Grande Oriente do Brasil.

    Parabens pelos esclarecimentos.

    Miguel Nunes

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  2. Excelente artigo. Bem explicado e bem fundamentado. Esclarece definitivamente essa questão do uso do nome "Rito de York". Muito bom. Verifiquei os links apresentados e realmente é como esse artigo explica. Parabens!

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