quinta-feira, 12 de abril de 2012

Evolução da denominação usada para o Rito de York americano


Quando o termo “Rito de York” começou a ser usado oficialmente para o Rito de York americano?

Como já explicamos em nossa mensagem Esclarecendo o termo “Rito de York”,  o termo “Rito de York” (e "Maçonaria de York") foi, e ainda é, usado, fora da Inglaterra, em vários países (inclusive por escoceses, irlandeses e franceses), para designar os graus superiores (além do grau 3) dos sistemas anglo-saxões.  Nesse sentido o termo “Rito de York” parece ter sido usado de maneira informal também para a sistema americano (um dos sistemas anglo-saxões), desde o seu começo.

Mesmo hoje em dia, não existe nada que torne “oficial”, propriamente dito, o uso do termo “Rito de York” para designar o Rito de York americano. Mas vale revermos um pouco de História da Maçonaria para entendermos como a denominação evoluiu e como somente a partir de 1957, o termo “Rito de York”  começou a ser usado de maneira menos informal para designar o Rito de York americano.

Porém como observamos em nossa mensagem Thomas Smith Webb e o Rito de York americano, Thomas Smith Webb nunca usou o termo “York Rite” (Rito de York), nem em seu livro “The Freemason’s Monitor”, nem nas constituições (estatutos) do General Grand Chapter of Royal Arch Masons (1799) e Grand Encampment of the United States (1816).

Consideremos agora Jeremy Ladd Cross, discípulo de Webb, que organizou os graus crípticos e participou da fundação de Conselhos Crípticos, sendo portanto o “pai e fundador” da Maçonaria Críptica nos Estados Unidos. Jeremy Cross publicou, em 1819, o “The True Masonic Chart or Hieroglyphic Monitor”, contendo, além dos três graus simbólicos, os quatro graus capitulares do Real Arco (Mestre de Marca, Past Master, Mui Excelente Mestre, Mestre do Real Arco) e mais dois graus crípticos: Mestre Real  e Mestre Escolhido. 

É importante observar que o “The True Masonic Chart or Hieroglyphic Monitor”, publicado 22 anos após a primeira edição do “The Freemason’s Monitor” de Webb, também não menciona o termo “York Rite” (Rito de York) e não incluí todos os graus do Rito de York americano.  E mesmo na sua quarta edição, revisada e ampliada, publicada em 1826, o “The True Masonic Chart or Hieroglyphic Monitor” ainda não menciona o termo “York Rite” (Rito de York) e ainda não incluí todos os graus do Rito de York americano.

Você pode ver por si mesmo, consultando o “The True Masonic Chart or Hieroglyphic Monitor”, quarta edição, revisada e ampliada, publicada em 1826, nos sites:


Fica claro portanto que pelo menos até 1826, se considerava os Capítulos do Real Arco, os Conselhos Crípticos e as Comanderias como três corpos maçônicos independentes, e não como partes de um todo.

Nessa época, o termo “Rito York”, se é que era usado para designar o Rito de York americano, o era de maneira informal, mais como sinônimo dos graus capitulares do Real Arco, do que para indicar o Rito de York americano como entendemos hoje.  Isso seria até certo ponto consistente a prática irlandesa e escocesa de chamar os graus superiores da Maçonaria britânica de Rito de York.

Em 1858, na quarta edição do “A Lexicon of Freemasonry” de Albert Mackey, encontramos o termo “York Rite” (Rito de York) definido, na página 522, como o rito praticado em todas as lojas inglesas e americana “embora tenha se desviado um pouco de sua pureza”.  Mackey explica que originalmente esse rito consistia apenas dos três graus simbólicos, mas que nos Estados Unidos se acrescentaram quatro outros graus (os graus capitulares do Real Arco) e comenta que em alguns estados se acrescentam ainda outros dois Mestre Real e Mestre Escolhido.

Você pode consultar por si mesmo o livro “A Lexicon of Freemasonry” de Albert Mackey, quarta edição, 1858, em:

Em 1859, quarenta anos após a morte de Thomas Smith Webb, Rob Morris reeditou o livro de Webb “The Freemason’s Monitor”, fazendo algumas alterações importantes: incluiu, baseado no trabalho de Jeremy L. Cross, os graus Crípticos de Mestre Real (Royal Master) e Mestre Escolhido (Select Master) e retirou os graus de Loja de Perfeição do Rito Escocês Antigo e Aceito.  Rob Morris também incluiu um apêndice com “Uma Sinopse da Lei Maçônica” de sua autoria.

O grau de Super-Excelente Mestre ainda não foi incluído e nos graus de cavalaria Morris ainda manteve a ordem descrita por Webb, e que é de origem inglesa: o grau de Cavaleiro de Malta vindo após o grau Cavaleiro Templário. Apesar disso, é inegável que a obra de Morris essencialmente reflete o Rito de York americano como hoje o entendemos. No entanto, a obra de Morris não menciona o termo “York Rite” (Rito de York) nenhuma vez.  

Você pode consultar por si mesmo o livro “The Freemason’s Monitor” de Webb e Morris, 1859, em:
  
Em 1873 e 1875, Albert Mackey publica a “Encyclopedia of Freemasonry” que no verbete “American Rite” registra: “Tem sido proposto, e eu creio que acertadamente, dar este nome para a série de graus praticados nos Estados Unidos. O Rito de York, que é o nome pelo qual esse graus são usualmente designados, é com certeza um nome inadequado, pois o Rito de York propriamente dito consiste apenas dos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, incluindo nesse último grau o Sagrado Arco Real.”  Fica claro, que duas nomenclaturas estão em uso: Rito Americano e Rito de York sem que nenhuma seja oficial.

Em seguida, ainda no verbete “American Rite”, Mackey registra que o rito teria, a rigor, nove graus: os três simbólicos mais Mestre de Marca, Past Master, Muy Excelente Mestre, Mestre do Real Arco, Mestre Real e Mestre Escolhido. Comente que alguns Conselhos Crípiticos incluem um décimo grau honorífico chamado Super-Excelente Mestre, mas que muitos Conselhos Crípticos repudiam tal grau mesmo como apenas honorífico.  Mackey também comenta que há também os três graus de Cavalaria, mas que esses dificilmente podem realmente ser considerados parte do Rito Americano, pois funcionam independente e nem mesmo é requerido ser ter os graus de Mestre real e de Mestre Escolhido para receber os graus de Cavalaria. Mackey conclui que o Rito Americano  propriamente dito consiste só do nove graus citados acima.

Você pode ler a integra do texto do verbete “American Rite”, na página 69,  em:

No verbete “York Rite”, Mackey reforça que o Rito de York propriamente dito consiste apenas dos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, incluindo nesse último grau o Sagrado Arco Real. Mackey continua: “Nos Estados Unidos, tem sido um uso quase universal chamar a Maçonaria praticada lá de Rito de York. Mas ela não tem mais direito a esse nome do que teria ao nome Rito Antigo e Aceito ou Rito Francês, ou Rito de Schröder. Ela não tem como pretender-se Rito de York. Dos seus três graus iniciais, o grau de Mestre é a versão mutilada que justamente afastou a Maçonaria inglesa do Rito de York, e além disso, acrescentou a esses três graus iniciais outros seis graus que são completamente desconhecidos para o antigo Rito de York.”

Vemos portanto que Mackey, em 1875, é claramente favorável a nomenclatura “Rito Americano” e considera um erro chamar a Maçonaria praticada nos Estados Unidos de “Rito de York”.

Você pode ler a integra do texto do verbete “York Rite”, na página 1036,  em:

Albert Mackey faleceu em 1881, mas sua “Encyclopedia of Freemasonry” teve várias reedições, e talvez por influência dela, vemos claramente até meados do século XX  a denominação “American Rite” (Rito Americano) sendo usada de maneira mais formal e o nome “York Rite” (Rito de York) de maneira mais informal. 

Por exemplo, em 1916, J. L. Carson, num artigo na revista maçônica “The Builder” escreve um artigo falando sucintamente sobre alguns ritos maçônicos. No item  “The American Rite”, ele escreve “O Rito Americano, ou Rito de York como é comumente embora erroneamente chamado, é peculiar aos Estados Unidos da América, e o termo Rito Americano é perfeitamente aplicável”.  Em seguida, ele lista os treze graus: incluindo o Super-Excelente Mestre nos graus Crípticos, mas ainda colocando Cavaleiro de Malta depois de Cavaleiro Templário. Veja em:

Outro exemplo: em 1942, William B. Greer publica seu  livro com o título “American Rite of Freemasonry Commonly Known As the York Rite” (“Rito Americanos de Franco-maçonaria comumente conhecido como Rito de York”). Veja em:  

Finalmente, em 1957, é fundado em Detroit, Michingan, o “Soberano Colégio do Rito de York da América do Norte” (“York Rite Sovereign College of North America”).  Veja, por exemplo, em : 

Só a partir então de 1957, a denominação "Rito de York" começou ser usada de maneira menos informal para o Rito Americano, mesmo assim até hoje muitos preferem a denominação Rito Americano e a utilizam mesmo em publicação e sites oficiais. Por exemplo:

Uma terceira prática, surgida depois de 1957, é usar a denominação combinada: Rito de York Americano (“American York Rite”).

terça-feira, 10 de abril de 2012

Divergências entre Modernos e Antigos

Qual eram os pontos de divergência entre a Grande Loja de Londres e de Westminster (fundada em 1717) e a Grande Loja dos Maçons Antigos (fundada em 1751)?

Primeiro vale relembrar que as duas Grandes Lojas em questão ficavam em Londres. Os principais pontos de divergências eram:

1. A Grande Loja de Londres e de Westminster foi fundada em 1717. Mais tarde, ela foi chamada pejorativamente de Grande Loja dos “Modernos”.  Trabalhava baseado na primeira constituição de Anderson (publicada em janeiro de 1723 pelo pastor presbiteriano James Anderson).  Por outro lado, a Grande Loja dos Maçons Antigos (Grand Lodge of  Ancient Masons), foi fundada em 1751.  Ela utilizava como constituição o trabalho Ahiman Rezon de Laurence Dermott (publicado em 1756).

2. A Grande Loja de Londres e de Westminster, até certo ponto, ignorava as Grandes Lojas da Escócia e da Irlanda, bem como as críticas vindas delas. Isso foi um dos fatores motivadores da fundação da Grande Loja dos Maçons Antigos.

3. A Grande Loja de Londres e de Westminster (os “Modernos”) aceitavam judeus e pela unificação do Rito católico-anglicano dos Antigo Deveres com o Rito calvinista da Palavra de Maçom, buscaram na esfera religiosa um conceito mais vasto ligado a noção de religião natural. A Grande Loja dos Maçons Antigos não aceitava a descristianização da Maçonaria.

4. A Grande Loja dos Maçons Antigos via o grau Mestre do Arco Real como parte integrante do grau de Mestre e não como um grau separado. O rito que eles praticavam era chamado Rito de York (embora não fosse realmente originário de York) e tinha apenas três graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre, o qual incluía o Mestre do Arco Real.  Por outro lado, a Grande Loja de Londres e de Westminster (os “Modernos”) separava o grau de Mestre do grau de Mestre do Arco Real, o que os “Antigos” consideravam uma mutilação imperdoável do grau de Mestre Maçom.

Essas são as principais diferenças. Claro que havia também aspectos políticos na “concorrência” dessas duas Grandes Lojas.

Os pontos 3 e 4 acima são muito importante, e pouco conhecidos. A chamada pura maçonaria praticada pela Grande Loja dos Maçons Antigos na verdade excluía os não‑cristãos. Além disso, os sistemas maçônicos que hoje chamamos de Rito de York (americano, inglês, escocês e irlandês) e que se pretendem herdeiros das tradições da Grande Loja dos Maçons Antigo traem justamente um ponto básico daquela Grande Loja e adotam um tratamento “Moderno” ao manter o grau de Mestre do Arco Real separado do grau de Mestre Maçom.