sábado, 2 de junho de 2012

Esclarecendo “Real Arco & Arco Real”

Li num certo artigo entitulado “Real Arco & Arco Real” que a Grande Loja de Londres e Westminster (Os Modernos) não aceitava “nem a pau” (como diz aquele artigo) o Arco Real enquanto que Grande Loja dos Antigos o praticava e que a solução, na fusão das duas Grandes Lojas em 1813, foi transformar o Arco Real em um grau lateral. Foi isso realmente o que aconteceu?

Não. Não foi isso o que ocorreu.  Primeiro observe que a primeira ata do primeiro Grande Capítulo do Arco Real ligado a Grande Loja de Londres e Westminster é datada de 22 de março de 1765, e que em 11 de junho de 1766, o Grande Capítulo exaltou o Grão-Mestre da Grande Loja de Londres e Westminster (a primeira Grande Loja), o qual se tornou imediatamente Grande Principal do Grande Capítulo. Portanto “Os Modernos” já praticavam o Arco Real bem antes da fusão em 1813.

Você pode ler um pouco da História do primeiro Grande Capítulo em:

A divergência entre a Grande Loja de Londres e  Westminster e a Grande Loja dos Antigos NÃO era sobre aceitar ou não o Arco Real.  A divergência relativa ao Arco Real era que a Grande Loja de Londres e  Westminster via esse grau como um grau adicional, separado da Maçonaria Simbólica, enquanto que a Grande Loja dos Antigos o via literalmente como parte integrante da Maçonaria Simbólica, em particular como parte do terceiro grau.

Você mesmo pode conferir a visão da Grande Loja dos Antigos sobre o Arco Real em:

e também na Enciclopédia de Mackey, verbete “York Rite”, na página 1036,  em:

Vale também notar que Dr. Mackey apresenta um argumento interessante de que mesmo antes da fundação do primeiro Grande Capitulo do Arco Real, em 1765, a Grande Loja de Londres e Westminster (chamada também de “the legal, or constitutional, Grand Lodge”) já praticava o conteúdo  Arco Real, porém com parte integrante do terceiro grau. 

Veja Enciclopédia de Mackey, verbete “Royal Arch Degree”, páginas 757 a 760, em:


Mas por que o início do segundo artigo do Tratado de União, em 1813, entre as duas Grandes Lojas rivais inglesas é “A antiga pura Maçonaria consiste de três graus e somente três, isto é, Aprendiz, Companheiro e Mestre, incluindo o Sagrado Arco Real [...].”? Como entender que 3 são 4?
   
Recapitulemos, de um lado temos a Grande Loja de Londres e Westminster (os Modernos) que praticava, pelo menos desde 1765, o grau do Arco Real como um grau adicional, separado da Maçonaria Simbólica; do outro lado temos a Grande Loja dos Antigos que praticava o Arco Real como parte integrante da Maçonaria Simbólica, em particular como parte do terceiro grau.

A frase no início do segundo artigo do Tratado de União de 1813 extremamente inteligente porque pode ser lida de duas maneiras diferentes. Quem era da Loja de Londres e Westminster (os Modernos) leria que a “antiga e pura Maçonaria” era feita de três graus e mais o grau do Arco Real, o que coincidia com a visão dos “Modernos”. Por outro lado, quem era da Grande Loja dos Antigos leria que Arco Real estava incluindo no grau de Mestre, o que coincidia com a visão dos Antigos. 


A Grande Loja dos Antigos tinha também um Grande Capítulo do Arco Real?

Sim, mas como a Grande Loja dos Antigos via o Arco Real como parte da Maçonaria Simbólica,  esse Grande “Capítulo” do Arco Real da Grande Loja dos Antigos nada mais era do um Comitê, uma Comissão, dentro da Grande Loja dos Antigos.

Você pode ler isso e mais detalhes sobre isso em:


Li, naquele mesmo artigo entitulado “Real Arco & Arco Real”, que após a fusão das Grandes Lojas, o Grande Capítulo do Arco Real foi colocado subordinado a Grande Loja Unida, por haver suspeita e medo do que veio de fora da Inglaterra e para melhor controlá-lo. É verdade?  

Essa afirmativa não tem sentido, por pelo menos dois motivos:

  1. Nas duas Grandes Lojas (dos Modernos e dos Antigos), os Grandes Capítulos do Arco Real já eram subordinados às respectivas Grandes Lojas.

  1. Na Escócia, quando os Capítulos do Arco Real se organizaram, eles também buscaram se colocar “sob a asa” da Grande Loja da Escócia, porém essa Grande Loja não aceitou. 

Você pode ler isso e mais detalhes na seção de História (History) do site do próprio Supremo Grande Capítulo do Arco Real da Escócia :

Além disso, como podemos ler no site do Grande Capítulo do Distrito de North Munster do Arco Real da Irlanda:

‘However, Royal Arch workings have been an integral part of Craft Masonry since “Time Immemorial” and before 1830, it was the Irish Tradition to work Higher Degrees under the sole authority of a Craft Warrant.’

ou seja

‘No entanto, a ritualística de Arco Real foi uma parte integrante da Maçonaria Simbólica desde “tempos imemoriáveis” e antes de 1830, foi a Tradição Irlandesa trabalhar os graus superiores sob a autoridade apenas de uma Carta Constitutiva [Warrant]  do Simbolismo.’

Veja, por você mesmo, em:


Ainda naquele artigo entitulado “Real Arco & Arco Real”, encontramos que “É preciso entender que o Arco Real inglês continua parte dos Graus Simbólicos, tal como determinado pelos artigos da União de 1813.” Isso é verdade, o Arco Real inglês é parte dos graus simbólicos?

Não. Aqui está se confundindo dois conceitos diferentes: O Grande Capítulo do Arco Real Inglês é subordinado a Grande Loja Unida da Inglaterra, mas isso não significa que o Arco Real inglês seja parte dos graus simbólicos. São dois conceitos distintos. Por exemplo, o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito do Grande Oriente de França (Suprême Conseil Grand Collège du Rite Écossais Ancien Accepté) está subordinado ao Grande Oriente França, através do Colégio de Ritos, mas isso não quer dizer que os 30 graus (de 4 ao 33) do Rito Escocês Antigo e Aceito no Grande Oriente  de  França tenham se tornado parte dos graus simbólicos.

Vale ainda notar que a visão de que o Arco Real é parte integrante dos graus simbólicos é exatamente a visão da Grande Loja  dos Antigos. Visão essa que acabou não prevalecendo. Note também que a versão do Arco Real que mais se afastou do Arco Real como entendido e praticado na Grande Loja dos Antigos foi justamente o Real Arco americano, o qual não só propôs uma total independência do Real Arco em relação a Maçonaria Simbólica como criou graus totalmente novos, americanos, como por exemplo, Mui Excelente Mestre.  


De onde vem a noção de que as Potências Filosóficas tem que ser independentes das Potências Simbólicas?

Essa noção vem dos Estados Unidos. Ela surgiu no final do século XVIII e começo do século XIX, quando as primeiras Potências Filosóficas (Supremo Grande Capítulo do Real Arco, Grande Acampamento da Cavalaria e Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito) se organizaram nos Estados Unidos.  A Maçonaria Simbólica lá estava dividida em dezenas de Grandes Lojas Estaduais, todas independentes entre si e nem todas se reconhecendo mutuamente. Isso tornava simplesmente impossível buscar qualquer vínculo das Potências de Maçonaria Filosófica (graus além do terceiro grau) com a Maçonaria Simbólica.

Até o final do século XX, ainda havia problemas de reconhecimento mútuo entre as Grandes Lojas Estaduais americanas. Até hoje, a Maçonaria Simbólica nos Estados Unidos é dividida em 51 Grandes Lojas Estaduais (50 Estados e um Distrito federal), todas independentes entre si, apesar dos acordos de mútuo reconhecimento que hoje existem.   

3 comentários:

  1. Parabéns. Excelentes explicações. É bom ver que dentro da Maçonaria ainda há pesquisadores e estudiosos sérios.

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  2. Excelente artigo. A Maçonaria brasileira precisa de pesquisas sérias como essas da Sociedade de Pesquisa Maçônicas. Parabéns!!!

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  3. Realmente muito boa a explicação. Esses esclarecimentos são importantes e valiosos para a cultura de todos os maçons.

    Eu já tinha notado que essa "estória" de que os Modernos não aceitavam o Arco Real antes da fusão (1813) não podia ser verdade, pois isso é desmentido pela data de fundação do Grande Capítulo do Arco Real dos Modernos (1765).

    A Sociedade de Pesquisa Maçônicas está de parabéns por mais esse excelente texto de esclarecimento.

    Miguel Nunes

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